ARC Edições | Ceará, 2016
Participação especial (posfácio-entrevista) © Kazimir
Pierre
Desenhos © Zuca Sardan
Capa, colagens, vinhetas & projeto gráfico © Floriano
Martins
Brochura, 176pgs
Formato 14x21 cm
Editoração eletrônica © Márcio Simões
R$ 30,00 (frete nacional simples
incluso)
KP | Podemos concluir então que os antigos veios
da razão e vontade de representação ocidentais são incomunicantes e sem saída
no nível imanente, mas que, no nível transcendente, a hipótese de uma explosão
orgiástica tangida pela lira dos 10.000 hymens aventa-se pelo oriente. Ora, se
tanto a iconoclastia islâmica quanto a autossuficiência científica são figadais
inimigas das velhas fábulas e suas deslumbrantes ilustrações, pergunto se a
melhor estratégia de salvação possível passaria pela inflação dos pneus da vida
cotidiana com os sete ventos da sabedoria, ficção, poesia, mitologia, romance
(ah, sim, o bom Quasímodo), arquitetura…
FM | Mas quem acredita nesse Olimpo que eleges? O dilema maior
do mundo não está na fé credenciada, mas antes na relutância em defender o
padroeiro existencial de cada um, ou de cada temporada. Entregar-se a um deus
qualquer é o mesmo que associar-se a um clube. Garante a espécie que se julga
devota de uma razão acima de qualquer suspeita, porém não encontra argumentos
para quem a dissocia de seus padroeiros de vivenda. Não, não podemos concluir
nada, jamais entendi a pressa em concluir algo. O mundo não cabe no dogma
finito da matéria. Acaso teríamos tornado possível o exame de DNA apenas para
identificar personagens da ficção semanal? Bem sei que tua indagação infringe
as normas físicas, mas entendo onde queres chegar. Os excessos religiosos são
uma espécie de dádiva para os excessos políticos, na mesma proporção em que os
excessos científicos alimentam a bravata dos excessos artísticos. O homem ferrou
a razão, limitando-a a uma fonte de justificativa de seus erros.
ZS | Creio que sim. Nos sete Ventos, temos embrulhadas sete
Musas. Faltam duas: sugiro incluirmos a Música e a Dança. Mas faltaria uma
terceira, se considerarmos o romance uma faceta da ficção. Pra terceira,
proponho a Cola, que nas dobras de sua clâmide, incluiria, além da Colagem
Surrealista, também a Cola Criativa de Lyceo; sendo a primeira faceta mais
gráfica, e a segunda mais escrita. Mas há uma terceira dobra na clâmide da
Cola: é a Arte do Falso. Há falsários vulgares, meros diluidores dos originais.
E há os Falsários de Gênio, que reinventam o Artista falseado. Ou seja: ao lado
do falso da arte, simples falcatrua, há… a Arte do Falso.
[Kazimir Pierre, fragmento
do posfácio-entrevista]
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