segunda-feira, 6 de agosto de 2018

DOIS LIVROS DE ZUCA SARDAN



Em 2014 a Editora da Unicamp imprimiu nova edição de dois livros de Zuca Sardan que já se encontravam perdidos no tempo: Osso do coração (1993) e Ás de colete (1994). ARC Edições promove agora a oferta conjunta dos dois livros por apenas 50,00 (cinquenta reais), já incluído o custo de postagem, para aqueles leitores interessados em todo o território brasileiro.

ÁS DE COLETE | Poesia & plástica | 136 páginas

Penso que o humor dos poemas de Zuca tanto interessa por seus feitos imediatos como pela perspectiva cultural implicada, em que se revelam sintomas de nosso tempo. O poeta brinca a cada página com formas e temas em princípio graves, mas brinca obsessivamente, como quem depende dessa mesma gravidade, numa espécie de parasitismo que simula independência quando de fato extrai do hospedeiro a força substancial. […] O poeta simula conciliar, para efeito de irrisão, o que de fato acaba conciliado, na forma de perturbações poéticas. Talvez porque o humorista, quando vem combinado com o poeta, já não se distancie completamente de seu objeto, vinculando-se a ele pelo que há de empenho íntimo em toda formalização artística bem-sucedida. Como num teatro de sombras, as criaturas projetadas denunciam, em outro plano, as tentativas de fuga de seu criador.
[Alcides Villaça]



OSSO DO CORAÇÃO | Poesia & plástica | 216 páginas

O herói de Sardan é um ser metamórfico (e metafísico), a oscilar entre a fralda e o fraque, a chupeta e o cavanhaque; capaz de grandes tiradas filosóficas e ainda não desmamado de tetas opulentas. Personagem de uma idade inconcebível, espécie de infância vetusta, onde transitassem bebês-anciãos. Sardan utiliza os encantos dos mitos infantis para melhor desvendar aos adultos os desencantos do mundo. São fábulas e apólogos narrados com uma delicada pena de urutau, constantemente banhada em ironia e humor sem equivalentes nas letras pátrias. É como se ele relatasse para nós a vida (o mundo) como ela (ele) é e a gente não se desse conta. Porque tudo vem naquela tonalidade sépia – tão própria das páginas antigas; e, suprema malícia, ficamos quase sempre sem saber se estamos lendo um texto atual, adulto e crítico, ou se se trata de um disfarce, a partir de uma daquelas historietas do Livro de Belas Ações, do velho Tesouro da Juventude; ou de uma simples e comovida homenagem a Reco-Reco, Bolão e Azeitona.
[Francisco Alvim]

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Os livros devem ser solicitados através do e-mail floriano.agulha@gmail.com, fornecendo endereço completo para imediato envio e comprovante de depósito, no valor de 50,00 (cinquenta reais) para:

MARIA DO SOCORRO NUNES XAVIER BENEVIDES
Banco BRADESCO | Agência 3456-8 | Conta Corrente 021926-6 | CPF 169.613.403-00

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Veja outros livros de Zuca Sardan, três dos quais em parceria com Floriano Martins, editados por ARC Edições:

ZUCA SARDAN
Poesia e plástica, 2017

ZUCA SARDAN | FLORIANO MARTINS
Teatro a quatro mãos, 2017

ZUCA SARDAN | FLORIANO MARTINS
Teatro a quatro mãos, 2016

ZUCA SARDAN | FLORIANO MARTINS
Teatro a quatro mãos, 2016




domingo, 15 de julho de 2018

COLEÇÃO O AMOR PELAS PALAVRAS

Editora CINTRA | ARC Edições

Catálogo 2017-2021



Criada em meados de 2017, a coleção “O amor pelas palavras”, de circulação exclusiva pela Amazon, reúne esforços editoriais da Editora Cintra e do selo ARC Edições, no sentido de robustecer o mercado de livros no Brasil em seu ambiente virtual, também com opções de aquisição de títulos impressos sob demanda. Seus diretores, respectivamente Leda Rita Cintra e Floriano Martins, até o momento publicaram 63 títulos. São livros ofertados em três idiomas: inglês, espanhol e português, para os quais pedimos a sua atenção, tanto de leitura quanto de difusão e sugestões.

Contatos:
floriano.agulha@gmail.com e ledacintra11@gmail.com

 

01 | Memória de Borges – Um livro de entrevistas, de Floriano Martins

02 | Escritura conquistada – Poesía hispanoamericana, de Floriano Martins

03 | Farelos do Mytho – teatro de farsas, de Zuca Sardan e Floriano Martins

04 | Invenção do Brasil – ensaios e entrevistas, de Floriano Martins

05 | Tratados de Harmonia – Ensaios sobre arte contemporânea, de Jacob Klintowitz

06 | Vlía – Poema para la quinta hoja de un trébol cualquiera, de Freddy Gatón Arce

07 | Horizontes del surrealismo – Ensaios, de Carlos M. Luis

08 | El catedral del desorden, antología poética de Roberto Piva

09 | Intuiciones y obsesiones – Crónicas de una vida interesante, de Susana Wald

10 | Río Loa, estación de los sueños – novela de Ludwig Zeller

11 | La novena generación – cuentos de Alfonso Peña

12 | Eccolequá – Raridades da Graffica Gralha, miscelânea atrevida de Zuca Sardan

13 | Dos pianos en la tempestad – Antología poética de Floriano Martins

14 | Um globo cheio de viajantes inauditos – miscelânea atrevida de Vicente Huidobro

15 | A muralha de Adriano – romance, de Menalton Braff

16 | Cuaderno de señales – Poesía 2012-2017, de Carlos Barbarito

17 | Escritos indígenas – Uma antologia, de Leda Rita Cintra [Org.]

18 | Ressurreições de uma ampulheta – Miscelânea atrevida de Aldo Pellegrini

19 | Imaginação estupefata – Poesia e Plástica, de Floriano Martins & Valdir Rocha

20 | Susana Wald & la vastedad simbólica – Crítica de arte, de Floriano Martins

21 | Conversas, de Alfonso Peña (entrevistas)

22 | Viagens do Surrealismo, 1 – A criação (antologia poética), de Floriano Martins

23 | Propriedade Imaginária, de Floriano Martins

24 | As Flores São Idiotas Completas (poesia), de Allan Vidigal

25 | Six Running Desires, de Floriano Martins, tradução de Allan Vidigal

26 | Overnight Medley (English Edition), de Floriano Martins & Manuel Iris, tradução de Allan Vidigal

27 | El río sin orillas, de Eduardo Mosches – Antología 1979-2014

28 | Mundo Mágico Bolívia, de Floriano Martins

29 | Tabula Rasa, de Valdir Rocha e Floriano Martins

30 | La maquinaría de los secretos, de Homero Carvalho

31 | Sobras de Deus, de Floriano Martins

32 | Agulha Revista de Cultura Entrevistas, vol 1

33 | O hábito do abismo – diálogos com Floriano Martins, de Márcio Simões

34 | Vislumbres verbales, de Gabriel Jiménez Emán

35 | Magmáticas medusas, de Anna Apolinário

36 | Caixa de Pandora, de Nicolau Saião

37 | Asilo de farsas, de Zuca Sardan e Floriano Martins

38 | Limaduras del sol y otros poemas, de Omar Castillo

39 | Inventario nocturno, de Homero Carvalho

40 | En la escritura de otros, de Omar Castillo

41 | Sob a pele da língua – Breviário poético brasileiro, de Floriano Martins [Org.]

42 | Amor Roma, de Allan Graubard

43 | Neonia, de Andreia Carvalho Gavita

44 | Depois de tudo, de Geraldo Ferraz

45 | Os fungos de Yuggotth, de H. P. Lovecraft

46 | Urupês, de Monteiro Lobato

47 | Tiempo de lobos, de Tomás Saravi

48 | A arte da subversão, de Ikaro Maxx

49 | Falar com os outros, de Nicolau Saião

50 | Esfinge Insurrecta – Poesía en Chile, de Floriano Martins e Juan Cameron

51 | Zacatraca, de Zuca Sardan e Floriano Martins

52 | Eros nômade, de Floriano Martins

53 | A inocência de pensar, vol. 1, de Floriano Martins

54 | A inocência de pensar, vol. 2, de Floriano Martins

55 | A inocência de pensar, vol. 3, de Floriano Martins

56 | Barajar la poesía, de Alfonso Peña

57 | Fabulário porquinhol, de Zuca Sardan e Floriano Martins

58 | A linguagem revelada, de Ester Fridman

59 | Yoga – Uma genealogia de seus princípios, de Ester Fridman

60 | Quarteto Kolax – Carroça patafísica

61 | Opra sfola, de Zuca Sardan & Alfonso Peña

62 | Las máscaras del aire, de Omar Castillo y otros (poema colectivo)

63 | Um novo continente – Poesia e Surrealismo na América, de Floriano Martins

64 | Clítoris clítoris, de Maria Estela Guedes

65 | Floriano Martins, poeta e demiurgo, de Claudio Willer

66 | El libro de Andrómeda, de John Sosa

67 | Dulce San José & Lina (dos novelas), de Adriano Corrales Arias

68 | A mobília violenta do ar, de Leila Ferraz

69 | Cuentos que no vendrán, de Armando Romero

70 | Oráculos profanos – Theatro Automático, de Zuca Sardan & Floriano Martins

71 | Infinite Cilia, de John Welson and David Greenslade

72 | Obra Poética, de Renée Ferrer

73 | Todo lo demás lo barrió el viento, de Berta Lucía Estrada

74 | 120 noites de Eros, de Floriano Martins

75 | A toda máquina, de Alfonso Peña

76 | Federico García Lorca, entre mil puntos de amor, de Agathi Dimitrouka

77 | El museo del visionario, de Floriano Martins & Berta Lucía Estrada

78 | El oficio de escribir – Ensayos reunidos, vol. 1, de Berta Lucía Estrada

79 | El oficio de escribir – Ensayos reunidos, vol. 2, de Berta Lucía Estrada

80 | Os reinos dourados, de Homero Carvalho Oliva

81 | Agulha Revista de Cultura – Edição seletiva 2019 # 125-148

82 | Anatomía movediza, de Juan Calzadilla

83 | As selvas despenteadas gemendo como gaivotas, de César Moro

84 | Esferas del tiempo – Poetas iberoamericanos nacidos en los 1950, de Floriano Martins y Omar Castillo [Org.]

85 | Fernando Arrabal e os desafios da memória, de Floriano Martins

86 | Milagre de mil rostos, de Aurora Leonardos


NOSSOS AUTORES

 

ADRIANO CORRALES ARIAS (Costa Rica, 1958)

AGATHI DIMITROUKA (Grécia, 1958)

ALDO PELLEGRINI (Argentina, 1903-1973)


ALFONSO PEÑA (Costa Rica, 1952)

ALLAN GRAUBARD (Estados Unidos, 1950)

ALLAN VIDIGAL (Brasil, 1971)

ANDREIA CARVALHO GAVITA

ANNA APOLINÁRIO (Brasil, 1986)

ARMANDO ROMERO (Colômbia, 1944)

AURORA LEONARDOS (Brasil, 1987)

BERTA LUCIA ESTRADA (Colômbia, 1955)

CARLOS BARBARITO (Argentina, 1955)


CARLOS M. LUIS (Cuba, 1932-2013)

CÉSAR MORO (Peru, 1903-1956)

CLAUDIO WILLER (Brasil, 1940)

DAVID GREENSLADE (País de Gales)

EDUARDO MOSCHES (Argentina, 1944)

ESTER FRIDMAN (Brasil, 1963-2020)

FEDERICO GARCÍA LORCA (Espanha, 1898-1936)

FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957)


FREDDY GATÓN ARCE (República Dominicana, 1920-1994)


GABRIEL JIMÉNEZ EMÁN (Venezuela, 1950)

GERALDO FERRAZ (Brasil, 1905-1979)

H. P. LOVECRAFT (Estados Unidos, 1890-1937)

HOMERO CARVALHO OLIVA (Bolívia, 1957)

IKARO MAXX (Brasil)

JACOB KLINTOWITZ (Brasil, 1941)

JOHN SOSA (Colômbia, 1953)

JOHN WELSON (País de Gales, 1953)

JORGE LUIS BORGES (Argentina, 1899-1986)

JUAN CALZADILLA (Venezuela, 1931)

JUAN CAMERON (Chile, 1947)

LEDA RITA CINTRA (Brasil, 1959)

LEILA FERRAZ (Brasil, 1944)

LUDWIG ZELLER (Chile, 1927-2019)


MANUEL IRIS (México, 1983)


MÁRCIO SIMÕES (Brasil, 1979)

MARIA ESTELA GUEDES (Portugal, 1947)

MENALTON BRAFF (Brasil, 1938)

MONTEIRO LOBATO (Brasil, 1882-1948)

NICOLAU SAIÃO (Portugal, 1946)


OMAR CASTILLO (Colômbia, 1958)

RENÉE FERRER (Paraguai, 1944)

ROBERTO PIVA (Brasil, 1937-2010)


SUSANA WALD (Hungria, 1937)

TOMÁS SARAVI (Argentina, 1934-2014)

VALDIR ROCHA (Brasil, 1951)


VICENTE HUIDOBRO (Chile, 1893-1948)


ZUCA SARDAN (Brasil, 1933)



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CLAUDIO WILLER | Conversa com os editores

CW | Como veio à luz esta parceria editorial, gerando este novo selo com um nome tão bonito, O amor pelas palavras? Quais os planos?

FM | O título da coleção foi emprestado de um de meus primeiros livros publicados, em 1982. Mas reflete, em essência, a intensidade de nossa relação com o mundo dos livros e com a palavra dada, não apenas escrita. Funciona, portanto, como uma carta de princípio. Há uma relação de mercado, certamente, considerando que os livros estão à venda, porém o que é determinante é criar novas perspectivas de acesso a títulos que o mercado comum não dá atenção.

LRC | Embora concordando com o que foi dito por Floriano, de que nossa meta não é essencialmente financeira, acredito que essa parceria é uma tentativa de fazer o mercado livreiro e principalmente o mercado do eBook despertar para o fato de que se pode publicar com excelência de qualidade tanto no papel impresso como no digital, sem esquecer que o digital nos dá a possibilidade de pensar primeiramente na qualidade do que é oferecido, sem precisar pensar tão emergencialmente no retorno financeiro da empreitada, porque o investimento pequeno dessas publicações torna isso possível.

CW | Floriano e Leda Cintra já se conheciam faz tempo, não é? Já havia um diálogo, um interesse em colaborarem? Façam um resumo desse diálogo.

FM | Conheci Leda Cintra quando, já não recordo por sugestão de quem, eu a procurei para atuar como agente literária em busca de edição justamente para o livro Memória de Borges, com que hoje abrimos a nossa coleção. O livro sofreu uma recusa generalizada por conta dos habituais entraves que a viúva do poeta argentino levava a termo pelos corredores editoriais em diversos países. Mesmo que se soubesse que os direitos autorais deste livro não pertenciam ao Borges, e sim aos diversos jornais e revistas onde as entrevistas foram publicadas, o fato é que as editoras não queriam arriscar. Finalmente o livro sai pelas Edições Nephelibata, de Santa Catarina, em uma belíssima caixa com dois volumes, edição artesanal, com uma tiragem de 60 exemplares. Meu convívio com Leda se intensificou a partir daí, ela passou a colaborar com a Agulha Revista de Cultura, ao mesmo tempo em que editou um livro de contos do costarriquenho Alfonso Peña e um livro meu: Invenção do Brasil. Era então uma versão resumida do livro homônimo que hoje tratamos de incluir na coleção. Por desdobramento natural, uma vez que sempre trocávamos e-mails a respeito dos problemas editoriais no Brasil, nos veio a ideia de somar nossas duas casas editoriais em torno de um projeto comum, utilizando apenas a plataforma virtual, com a determinação de compor um catálogo relevante.

LRC | Pois é… a recusa de publicar Memória de Borges por causa das invectivas da viúva foi quase trágica. Os editores queriam o livro, reconheciam sua importância, mas editores não costumam se arriscar em polêmicas com herdeiros de direitos autorais, mesmo quando os direitos sejam tão questionáveis quanto neste caso, em que se resguarda muito mais o nome de Jorge Luis Borges do que direitos que, como disse Floriano, pertencem aos entrevistadores. Acredito que a questão dos direitos autorais deveria ser melhor revista, porque resguardar os autores é publicar seus textos, não esquecê-los mercê da não politica dos herdeiros, como acontece  com frequência no nosso país em que grandes autores e suas excelentes obras terminam caindo no esquecimento mercê de herdeiros e de editores que se digladiam sem nenhuma noção.

CW | Seu campo, Floriano, tem sido preferencialmente o surrealismo – que, no Brasil, virou dissidência cultural, pelo modo como é desconsiderado por elites pensantes. Sua colossal pesquisa – em especial sobre manifestações do surrealismo fora da França – terá reflexos nas pautas ou títulos dessa nova série?

FM | Não creio que seja possível, do ponto de vista de uma prática quando menos razoável de abrangência cultural, deixar de fora o surrealismo de qualquer catálogo editorial. Seja pela importância fundamental do movimento, quanto pelo volume impressionante de títulos que acompanha a vida literária de incontáveis países. Eu tenho em preparo no momento dois livros dedicados ao tema. O primeiro deles é uma bem abrangente antologia poética de poetas surrealistas em todo o mundo, com um total de quase mil páginas. Este livro deverá ser publicado até novembro. O outro volume requer mais tempo de preparo, por se tratar de um volume crítico de diálogos que venho mantendo com estudiosos do surrealismo em países como Portugal, México, Espanha, Grécia, Austrália, Holanda etc. Pouco antes de sua morte, deixaram comigo originais dedicados ao surrealismo os poetas André Coyné (França) e Carlos M. Luis (Cuba). Como temos uma previsão de 20 títulos para este resto de 2017, estes originais em breve entrarão em fase de digitação, e creio que será possível publicá-los no início do próximo ano. Há também livros dedicados ao surrealismo que já se encontram na previsão editorial para este ano: ensaios do argentino Aldo Pellegrini; uma antologia poética do Roberto Piva, em espanhol; um amplo volume de teatro automático escrito a quatro mãos por mim e Zuca Sardan; um estudo crítico que preparei sobre a obra plástica da artista Susana Wald etc. Aqui é importante destacar que os livros atendem a leitores tanto em idioma português quanto espanhol, o que amplia o alcance de nossa aventura editorial.

LRC | Acho importante a publicação dessas obras dedicadas ao surrealismo que, na América Latina, quase exclui o Brasil, em que o desconhecimento por essa corrente literária se resume a Dali.

CW | Leda Cintra, como se projeta seu campo de interesses nessa programação editorial? Haverá mais sobre Pagu? Sobre censura e seus malefícios?

LRC | Como disse no inicio, o instigante nessas publicações digitais, interesse maior da editora Cintra é a possibilidade de tirar do esquecimento nomes como Geraldo Ferraz, do qual publicamosDoramundo, o romance que em 1956 foi considerado o melhor do ano, sem nos esquecermos que foi o ano em que Guimarães Rosa teve publicado seu Grande Sertão Veredas. Também de Geraldo Ferraz publicaremos outros livros como Depois de Tudo, uma autobiografia quase já esquecida, assim como Jorge de Andrade, do qual publicamos todo o teatro, num belíssimo trabalho de Elizabeth Azevedo que complementou essa edição de suas peças com apresentações  e prefácios  de professores, críticos, gente do teatro como Antonio  Candido de Mello e Souza, Carlos Guilherme Motta,  Antunes Filho etc.
Sim, pretendemos publicar toda a obra de Pagu que, como você sabe melhor do que ninguém é mito, mas mito em um país como o Brasil, periga ter o nome usado desde escolas até brechós, sem dar satisfação aos herdeiros. E olha que os herdeiros da obra de Pagu, seus netos e noras, são bem simpáticos com os pretendentes a alcançar esses títulos… mas Pagu está atualmente em vários países, com seu Parque Industrial, tais como Estados Unidos, México, França, Croácia e, em breve, sairá pela nova Editora Linha a Linha, que começa seu catálogo com esse título aqui no Brasil onde já se encontra disponível em ebook pela Editora Cintra. Veja, entretanto, que são traduções de estudiosos, professores universitários, que descobrem Patricia Galvão e sua obra em feiras culturais e por ela se interessam a ponto de traduzir e buscar editoras. No Brasil fazer os leitores comprarem livros ou eBooks  é difícil, e para a Editora Cintra o maior exemplo disso é o de que todo mês são vendidos de dois a três eBooks de Parque Industrial, mas em uma promoção gratuita de 72 hs foram baixados 470 eBooks dessa autora. Isso, entretanto, em nada nos aborrece, como disse Floriano Martins, nosso foco maior não são as vendas, porque embora estejamos no mercado, o foco principal é o de preservar títulos da nossa lavra que sem as possibilidades dos eBooks morreriam nos fundos de gavetas parecendo pouco comerciais para as editoras que imprimem livros.

CW | Floriano, você é artista múltiplo, literário e visual. Isso tem consequências na escolha de títulos?

FM | Uma consequência natural. Não apenas no tocante à definição do catálogo, como também no cuidado com o projeto gráfico, considerando que assino capa e desenho interno de todos os livros. Além disto, me parecem já indissociáveis as criações literárias e plásticas, sendo bem comum a existência de escritores que são também artistas plásticos ou gráficos, e vice-versa.

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ALFONSO PEÑA | Conversa com os editores

AP | Leda  & Floriano, su travesía por publicaciones de revistas y ediciones de libros es muy amplio y de gran recorrido. Me parece que para nuestros lectores y amigos será importante conocer sus observaciones y comentarios sobre el hecho de como dos sellos editoriales se compaginan y entran en complicidad para publicar libros en formato eBook…  ¿Esencias, descubrimientos?

FM | Hay dos puntos complementares. El primero es una estrategia de mercado. El segundo, mi admiración por este trabajo editorial que hace tiempo realiza Leda. Hay un modo, todavía hay, de hacer del mercado algo más humano. Además es muy importante la complicidad, en todos los sentidos, sobre todo en un tiempo como el nuestro, en que el aislamiento posee un acento muy peligroso.

LRC | Concordo com Floriano na admiração,  admiro em Floriano  esse trabalhador da cultura latino-americana, que acredita em transformar os homens pela cultura. Admiro e aceito sua ideia de cumplicidade, uma cumplicidade muito necessária para que possamos continuar a caminhar sem nos atermos a especificações solitárias e imunes a compartilhamentos culturais e humanos, o que  apenas traz o isolamento de cada homem ou mulher.

AP | Editora Cintra y Arc Edições, poseen en sus catálogos títulos importantes, en algunos casos con autores de gran bagaje y prestigio como fue el primer título sobre las entrevistas concedidas por Jorge Luis Borges y recopiladas por Floriano Martins para esta edición… ¿Qué esperan de este título con el que inicia la colección?

FM | Nuestra preocupación central es con la configuración de un catálogo que sea al mismo tiempo diversificado y relevante. La idea es buscar títulos que expresen una distinción en relación al mercado común. Memoria de Borges es una selección de entrevistas que ha dado a la prensa el poeta argentino en su pasaje por varios países, en sus viajes como conferencistas. Este material estaba disperso, en grande parte los periódicos habían cerrado sus puertas, así que es un libro muy raro y revelador del carácter de Jorge Luis Borges. En esta misma dirección estamos preparando libros de autores como Vicente Huidobro, Aldo Pellegrini, Jacob Kintowitz. Lo que esperamos con esa apuesta editorial es ofrecer al lector una muestra significativa y diversa del arte y el pensamiento en nuestro tiempo, desde principios del siglo pasado hasta hoy.

LRC | Nesta pergunta percebo a preocupação com o destino que receberão grandes autores, livros e ideias com as atuais publicações; uma preocupação que ainda não é a nossa, se pensarmos no grande público, mas que é nossa se pensarmos em levar a grande literatura, no sentido de autores e textos de qualidade excelente, para um público que tem o direito de ter preservados livros como esse de J. L. Borges e outros que constam dos catálogos dessas duas editoras, livros que sem essas publicações estariam perdidos nos armários e gavetas, alguns nas memórias de quem os leu, mas longe das prateleiras das livrarias e gráficas.

AP | La propuesta editorial de ustedes como editores se puede entender como una manera de enfrentar la crisis en los sistemas capitalistas… Ante la “difundida” caída del libro impreso, consideran que los eBooks es un modo efectivo de combatir la crisis…

FM | Hay en esa perspectiva más de deseo que de modo efectivo. Además es un riesgo pensar en las cosas como siendo excluyentes. Eso es muy común en Brasil, dejar una cosa por otra, cuando es plenamente posible la común relación entre varias cosas. ARC Edições sigue con sus libros impresos, ahora mismo presentamos un libro muy bello, en colores, sobre las esculturas de un importante artista brasileño: Valdir Rocha. Sumamos nuestro esfuerzo en búsqueda de un sitio mágico en que el arte y el pensamiento alcancen una perfecta mecánica de interrelación. Igual seguimos con la publicación mensual de Agulha Revista de Cultura e sus series especiales. Hay mucho trabajo y este es el modo más efectivo de ser: trabajar para combatir las crisis todas, sobre todo la crisis moral, que es la más corrosiva.

LRC | Combater a atual crise econômica seria possível através dos textos em eBooks dados seus preços muito mais acessíveis do que quando falamos de publicações impressas, mas para isso teríamos de estar no mesmo patamar de alguns países estrangeiros em que o eBook é um verdadeiro sucesso de vendas sem, contudo, atrapalhar as vendas das publicações impressas. Há que saber fazer conviver de forma harmônica esses dois tipos de publicações, o eBook e o impresso, como um dia fizemos conviver televisão e jornais impressos que, se hoje estão em menor número não é absolutamente por causa da televisão que foi combatida pelos jornalistas e autores de textos impressos quando surgiu, mas por causa de uma crise que se prolonga e atinge muitos segmentos além do financeiro.

AP | Conversemos de estrategias visibles e invisibles… ¿Cómo atraer al mercado global?

FM | La palabra-llave es la misma, en cualquier actividad de mercado: difusión. Por supuesto que hablamos de difusión de un obyecto de calidad. Es indispensable establecer la diferencia, porque el mercado está saturado de mercancías de baja calidad. El mercado de libros no es distinto. Así que la estrategia esencial apunta en la dirección de muy buena y activa difusión, a través de los mecanismos de publicidad de Amazon, así como la difusión que hacemos a través de las redes sociales y la complicidad que mantenemos con nuestros amigos de las artes, editores de revistas, periodistas etc. A ver que sale de todo esto…

LRC | Concordo com Floriano: divulgar, divulgar e divulgar de todas as maneiras possíveis sem perder o foco da qualidade; porém, não se pode negar que um público leitor mais assíduo seria desejável, embora saibamos que isso se consegue com educação e tempo.

AP | En conversaciones que mantengo con personas y amigos de diversos países y medios, muchos opinan que todavía los lectores de libros impresos no se “acostumbran” al eBook, en otras palabras “no se siente cómodos”. ¿Cómo lograr que se integren a las parafernalias digitales…?

FM | Hay que insistir que se tratan de modos distintos de acercamiento de contenidos. Es plenamente posible contar con los dos mundos, el impreso y el virtual. Fíjate que lo mismo se decía de los periódicos que hoy circulan ampliamente en el medio digital. El problema mayor no está en el formato de presentación de la lectura, sino en el interés por la lectura misma. Esto es lo que más me preocupa, sobre todo en un país como Brasil, el agotamiento de la lectura relevante. En eso sentido, ojalá el mundo digital pueda ayudar simplemente por ofrecer un nuevo formato de acceso.

LRC | Essa é uma questão de difícil resposta, porque vemos em ônibus, metrôs etc., assim como nas casas, pessoas das mais diferentes faixas etárias com kindles nas mãos lendo… São aparelhos que tornam muito mais fácil o transporte e manejo dos textos do que livros impressos. Além disso, apesar de acreditar que o hábito do livro impresso seja próprio de uma faixa etária mais elevada, quando os eBooks nem sequer existiam, acredito bem fortemente que o verdadeiro leitor, não permite que o meio o impeça de chegar ao conteúdo com o qual deseja se deleitar, como prova o grande Esdras do Nascimento, autor também da Editora Cintra, recentemente falecido que, aos 83 anos possuía três aparelhos kindles e só lia em eBook, porque cada kindle comporta 3 mil títulos, não pega poeira, é de fácil transportar e não gasta espaço.

AP | Quizá es importante que podamos conversar en relación a las ediciones alternativas en contraposición con las ediciones de los emporios editoriales… ¿similitudes, diferencias?

FM | No veo como contraposición. Hay de todo en los dos modos, el mundo está tomado por el preocupante crecimiento de la basura. Hay una creciente marginalización del ser, el interés de convertir al ser en pieza de reposición de un mercado de almas. Cada uno reacciona a su modo, por supuesto. Pero la más grande calamidad radica en la inacción.

LRC | Espero que hoje, como sempre, haja a similitude da procura da qualidade e que a diferença sirva apenas para publicar mais títulos, já que nem todos caberiam em uma única casa ou forma de edição.

AP |¿Podemos referirnos a generaciones de lectores en papel y digitales…? Hace unos años este cuestionamiento se hubiera percibido como algo utópico, podemos afirmar que ya existe “la generación” de lectores digitales de un modo convencido y autónomo. ¿Opinión?

FM | Bueno, que así sea, pero… ¿Qué importa? ¿Qué importa, tomemos la música por ejemplo, que exista una generación de música acústica y otra de música electrónica? Nada de eso define la calidad del arte, más aún, la calidad de la vida.

LRC | Penso que cada vez mais países com maior número de leitores acessam de todas as maneiras os livros; logo, são mais acessíveis a essa nova forma de publicação, sem deixar de ler os impressos. Acredito que em locais semoventes como ônibus, metrôs, etc. se vê mais pessoas lendo publicações digitais pela facilidade de transportar e isso pode nos levar erroneamente a acreditar que apenas os jovens, que usam esse tipo de transporte leem no digital, o que não é verdade, pois isto se constata apenas pela facilidade de transportar os livros nos veículos coletivos como em viagens. O que me parece é que no Brasil, especialmente, novidades de qualquer tipo, que não se refiram a moda e cosméticos, demoram um tempo maior para serem incorporadas.

AP | Para concluir, se habla de un “catálogo” con un inicio de 20 títulos para los próximos 6 meses… Es un trabajo acelerado y lleno de matices… ¿Cómo piensan enfrentar la producción, el diseño de portadas, composición de páginas internas, la distribución, las ventas… y sobre todo la calidad editorial…? 

FM | Bueno, el primero paso es de cierto modo lo más tranquilo, pues estamos trabajando con libros ya existentes, algunos que inclusive tuvieron una primera edición impresa. Libros que son una re-compilación de textos dispersos en periódicos y volúmenes con autores diversos. La parte del diseño gráfico está conmigo, incluso las portadas. Ya Leda cuida de la preparación técnica de cada título para inserción en la plataforma Kindle, de Amazon. Manejamos los dos las estrategias de distribución y Leda hace el acompañamiento de las ventas. Es un trabajo muy dinámico y me encanta esa perspectiva creada por nosotros, esa mecánica mágica del descubrimiento perene de uno en el otro. Las relaciones de trabajo son también relaciones amorosas. Así es la vida.

LRC | Vejo que parte da resposta já foi dada por Floriano e concordo; ademais, o que importa mesmo aos dois selos é, além do encantamento da parceria, que cada título tenha examinada cuidadosamente a qualidade, para que sejamos não grandes vendedores de livros, mas sim divulgadores de inéditos e textos de grande qualidade esquecidos nas gavetas e que não podem nem devem ser esquecidos porque a perda seria da própria humanidade.


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