FLORIANO
MARTINS & VALDIR ROCHA | Lembrança
de homens que não existiam (Poemas &
desenhos)
ARC Edições | Ceará, 2013
Capa, de Valdir Rocha
Brochura, 106págs
Projeto gráfico: Nelson
Itiro Mitsuhashi
Formato: 14x21cm
R$ 35,00 (frete simples
incluso)
Exemplar autografado pelo
Autor
Floriano
Martins (poemas) e Valdir Rocha (desenhos) avivam uma relação de amizade na
forma de um diálogo criativo que transcende os limites da ilustração. O
convívio com a poética de cada um é o que permitiu o convite feito por ambos
quase simultaneamente, como um estalo mágico do acaso. Lembrança de homens que não existiam traz à tona - ou conduz o
leitor à profundeza de seu imaginário - uma secreta história do homem repleta
de indagações e inquietudes. E o faz com um sentido narrativo que resulta em
desafio e encantamento, pelo que permite a quem o visite identificar-se com a
voragem de sua visão. Um livro para
ser visto e lido sem dissociar suas vertentes criativas.
TRECHOS
PARA LEITURA
A
centelha que me permitiu adentrar os desenhos de Valdir Rocha contém um segredo
alquímico que parcialmente aqui revelo. O primeiro elemento é o que Giacometti
chamava de “resíduo de uma visão”, a forma como uma imagem se refaz a cada
projeção em minha retina. Logo veio juntar-se a nós a precisão hipnótica com
que Modigliani desenha o olhar de seus rostos, como um portal que nos leva a
outra dimensão. Em face disto as máscaras mortuárias anônimas se somam como uma
ponte que me levam até os hinos religiosos encontrados nos túmulos egípcios. Como
o próprio Valdir Rocha já havia apontado na forma de título de um livro seu,
seus rostos – mais precisamente seus olhares – foram me fazendo confidências que, em essência, indagavam
sobre a atuação dos deuses em nossas vidas, o modo como encarnamos devoções e
súplicas, como nos restituímos vida a cada resíduo do que somos. A obsessão de
Valdir Rocha por cavoucar o mistério do olhar foi alimentando o canto com o
qual refiz minha visão da relação do homem consigo mesmo e o próximo. O que não
se revela aqui é o que somente o olhar do leitor saberá decifrar. [Floriano
Martins]
A
poesia tem seus próprios desígnios e percorre muitos caminhos. Daí que se
expressa por inúmeros meios; dentre estes, o poema é possivelmente o seu
veículo mais notável: num instante, transforma palavras em coisas tão diversas
daquelas a que estavam destinadas, mas sem ignorar algo do seu vínculo
originário. Com isso, as palavras multiplicam as significações. O que Floriano
Martins lança a compor este volume, em torno de nossas lembranças, pode ser
visto como um conjunto de poemas ou como um poema único (que o leitor
redividirá ou não, aqui e ali) para dar singular exemplo de como isso se dá. Há
uma magia particular em cada trecho que se seccione e no todo resultante. E
então não se tem uma história, porque
elas são inúmeras, inclusive para englobar as que acontecerão fatalmente,
porque são da natureza dos homens. Com palavras, Floriano redesenha olhos,
olhares, visões; busca nomes que não quer encontrar; faz perguntas
irrespondíveis; espelha o que não se reflete; lança-se em abismos; preenche e
dilata vazios; percorre as trilhas da angústia; reza para divindades em que não
crê; busca decifrar sem querer. E por aí vai. O poeta é lançador de talvezes, de longo alcance. Conversamos
sobre dúvidas, sabedores de que continuaremos com elas. [Valdir Rocha]
RESENHA
Lembrança de Homens que não existiam traz um diálogo em que o
conflito entre a imagem e a palavra desfigura a realidade construída para
revelar o Vazio, o Nada, de onde surge o ponto de partida para as buscas
íntimas do ser humano. É dentro de um ambiente de indagações e descobertas que
os amantes se encontram e se despedem num ir e vir constante que se modifica conforme
as indomáveis inquietações do Homem. As metáforas abundantes e singulares servem
para indicar os elementos de inversão, anulação,
reduplicação e deslocamento do eu e
da realidade. Como em Lacan, em que "a formação do [eu] é simbolizada oniricamente por um
campo fortificado, ou mesmo um estádio, que se estende da arena interna até sua
muralha, até seu cinturão de escombros e pântanos, dois campos de luta opostos
em que o sujeito se enrosca na busca do altivo e longínquo castelo interior".
Em Lembrança de Homens que não existiam
o "castelo interior" é o
desejo intrínseco de se encontrar no outro, isto é, na outra metade de si
mesmo, de se desfazer e refazer no outro para, desta forma, completar-se e
estabelecer uma relação entre o mundo interior e o exterior. Além da linguagem rica em atítese, oximoro e paradoxo, repleta
de associações que quebram o aspecto lógico, entre as características de
Floriano Martins encontra-se a temática do abismo, da vertigem, do nome, da
casa, da metapoesia, do espelho. O espelho onde o Homem é confrotado consigo
mesmo, onde ele se reconhece e se multiplica. Floriano Martins arruina a
perspectiva, desestruturando-a, projetando o sentido das palavras para fora de
si, deslocando-as para reestabelecer uma nova imagem, vista de uma dimensão
ambígua e de um ponto alucinatório. E, por fim, as linhas expressivas das
fisionomias desenhadas por Valdir Rocha reforçam o trajeto inquisitivo dos
poemas, adicionando à interpretação mais uma extensão imagética. [Viviane de Santana
Paulo - Berlim, 02/08/2013]
Floriano Martins (Fortaleza, 1957). Poeta, ensaísta, tradutor e
editor. Diretor da Agulha Revista de Cultura (www.revista.agulha. nom.br) e da
ARC Edições. Estudioso do Surrealismo e de poesia de língua espanhola. Tradutor
de Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Pablo Antonio Cuadra e
Aldo Pellegrini. Alguns de seus livros de poemas: Cenizas del sol [edição
trilíngue, com o escultor Edgar Zúñiga] (Costa Rica, 2001), Tres estudios para
un amor loco [tradução de Marta Spagnuolo] (México, 2006), Duas mentiras (Brasil, 2008), Teatro imposible [tradução de Marta Spagnuolo]
(Caracas, 2008), A alma desfeita em corpo (Portugal, 2009), Fuego en las cartas
(edição bilíngue, tradução de Blanca Luz Pulido] (Espanha, 2009), Autobiografia
de um truque (Brasil, 2010), Delante del fuego [traducción de Benjamín
Valdivia] (México, 2010), Abismanto [com Viviane de Santana Paulo] (Brasil,
2012). arcflorianomartins@gmail.com.
Valdir Rocha (São Paulo,
1951) é pintor, desenhista, escultor e gravador, com dedicação às artes
plásticas desde 1967. Parte expressiva de suas obras está reproduzida nos
seguintes livros: Mentiras, Verdades-meias e Casos Veros (desenhos, pinturas,
esculturas e textos diversos), São Paulo, 1994;
Xilogravuras, São Paulo, 2001; Cabeças. São Paulo, 2002; Gravuras em
Metal, São Paulo, 2002; Títeres de Ninguém, Florianópolis, 2005; SÓS (desenhos
e pinturas sobre papel impresso), São Paulo, 2010; e Confidências (desenhos e
pinturas sobre papel impresso), São Paulo, 2013. A obra de Valdir Rocha é
objeto de diversas monografias, como as
seguintes: A Escultura de Valdir Rocha, de Mirian de Carvalho, São Paulo, 2004,
e O Desenho de Valdir Rocha, de Péricles Prade, São Paulo, 2010. Em 2012, foi
publicado o livro Só sobre SÓS, de Valdir Rocha, coordenado por Péricles Prade,
Florianópolis, com textos de 17 autores. Realizou exposições individuais e
participou de algumas coletivas. vr@valdirrocha.art.br.
PEDIDOS A
Pedidos para o território nacional através de e-mail a
informando endereço completo para remessa de exemplar e anexando confirmação de depósito no valor de R$ 35,00 (trinta e cinco reais) em favor de
FLORIANO BENEVIDES JÚNIOR • Banco BRADESCO
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