terça-feira, 7 de abril de 2015

Lembrança de homens que não existiam



FLORIANO MARTINS & VALDIR ROCHA | Lembrança de homens que não existiam  (Poemas & desenhos)
ARC Edições | Ceará, 2013
Capa, de Valdir Rocha


Brochura, 106págs
Projeto gráfico: Nelson Itiro Mitsuhashi
Formato: 14x21cm
R$ 35,00 (frete simples incluso)
Exemplar autografado pelo Autor


Floriano Martins (poemas) e Valdir Rocha (desenhos) avivam uma relação de amizade na forma de um diálogo criativo que transcende os limites da ilustração. O convívio com a poética de cada um é o que permitiu o convite feito por ambos quase simultaneamente, como um estalo mágico do acaso. Lembrança de homens que não existiam traz à tona - ou conduz o leitor à profundeza de seu imaginário - uma secreta história do homem repleta de indagações e inquietudes. E o faz com um sentido narrativo que resulta em desafio e encantamento, pelo que permite a quem o visite identificar-se com a voragem de sua visão. Um livro para ser visto e lido sem dissociar suas vertentes criativas.


TRECHOS PARA LEITURA

A centelha que me permitiu adentrar os desenhos de Valdir Rocha contém um segredo alquímico que parcialmente aqui revelo. O primeiro elemento é o que Giacometti chamava de “resíduo de uma visão”, a forma como uma imagem se refaz a cada projeção em minha retina. Logo veio juntar-se a nós a precisão hipnótica com que Modigliani desenha o olhar de seus rostos, como um portal que nos leva a outra dimensão. Em face disto as máscaras mortuárias anônimas se somam como uma ponte que me levam até os hinos religiosos encontrados nos túmulos egípcios. Como o próprio Valdir Rocha já havia apontado na forma de título de um livro seu, seus rostos – mais precisamente seus olhares – foram me fazendo confidências que, em essência, indagavam sobre a atuação dos deuses em nossas vidas, o modo como encarnamos devoções e súplicas, como nos restituímos vida a cada resíduo do que somos. A obsessão de Valdir Rocha por cavoucar o mistério do olhar foi alimentando o canto com o qual refiz minha visão da relação do homem consigo mesmo e o próximo. O que não se revela aqui é o que somente o olhar do leitor saberá decifrar. [Floriano Martins]

A poesia tem seus próprios desígnios e percorre muitos caminhos. Daí que se expressa por inúmeros meios; dentre estes, o poema é possivelmente o seu veículo mais notável: num instante, transforma palavras em coisas tão diversas daquelas a que estavam destinadas, mas sem ignorar algo do seu vínculo originário. Com isso, as palavras multiplicam as significações. O que Floriano Martins lança a compor este volume, em torno de nossas lembranças, pode ser visto como um conjunto de poemas ou como um poema único (que o leitor redividirá ou não, aqui e ali) para dar singular exemplo de como isso se dá. Há uma magia particular em cada trecho que se seccione e no todo resultante. E então não se tem uma história, porque elas são inúmeras, inclusive para englobar as que acontecerão fatalmente, porque são da natureza dos homens. Com palavras, Floriano redesenha olhos, olhares, visões; busca nomes que não quer encontrar; faz perguntas irrespondíveis; espelha o que não se reflete; lança-se em abismos; preenche e dilata vazios; percorre as trilhas da angústia; reza para divindades em que não crê; busca decifrar sem querer. E por aí vai. O poeta é lançador de talvezes, de longo alcance. Conversamos sobre dúvidas, sabedores de que continuaremos com elas. [Valdir Rocha]


RESENHA

Lembrança de Homens que não existiam traz um diálogo em que o conflito entre a imagem e a palavra desfigura a realidade construída para revelar o Vazio, o Nada, de onde surge o ponto de partida para as buscas íntimas do ser humano. É dentro de um ambiente de indagações e descobertas que os amantes se encontram e se despedem num ir e vir constante que se modifica conforme as indomáveis inquietações do Homem. As metáforas abundantes e singulares servem para indicar os elementos de inversão, anulação, reduplicação e deslocamento do eu e da realidade. Como em Lacan, em que "a formação do [eu] é simbolizada oniricamente por um campo fortificado, ou mesmo um estádio, que se estende da arena interna até sua muralha, até seu cinturão de escombros e pântanos, dois campos de luta opostos em que o sujeito se enrosca na busca do altivo e longínquo castelo interior". Em Lembrança de Homens que não existiam o "castelo interior" é o desejo intrínseco de se encontrar no outro, isto é, na outra metade de si mesmo, de se desfazer e refazer no outro para, desta forma, completar-se e estabelecer uma relação entre o mundo interior e o exterior. Além da linguagem rica em atítese, oximoro e paradoxo, repleta de associações que quebram o aspecto lógico, entre as características de Floriano Martins encontra-se a temática do abismo, da vertigem, do nome, da casa, da metapoesia, do espelho. O espelho onde o Homem é confrotado consigo mesmo, onde ele se reconhece e se multiplica. Floriano Martins arruina a perspectiva, desestruturando-a, projetando o sentido das palavras para fora de si, deslocando-as para reestabelecer uma nova imagem, vista de uma dimensão ambígua e de um ponto alucinatório. E, por fim, as linhas expressivas das fisionomias desenhadas por Valdir Rocha reforçam o trajeto inquisitivo dos poemas, adicionando à interpretação mais uma extensão imagética. [Viviane de Santana Paulo - Berlim, 02/08/2013]


Floriano Martins (Fortaleza, 1957). Poeta, ensaísta, tradutor e editor. Diretor da Agulha Revista de Cultura (www.revista.agulha. nom.br) e da ARC Edições. Estudioso do Surrealismo e de poesia de língua espanhola. Tradutor de Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Pablo Antonio Cuadra e Aldo Pellegrini. Alguns de seus livros de poemas: Cenizas del sol [edição trilíngue, com o escultor Edgar Zúñiga] (Costa Rica, 2001), Tres estudios para un amor loco [tradução de Marta Spagnuolo] (México, 2006), Duas mentiras (Brasil, 2008), Teatro imposible [tradução de Marta Spagnuolo] (Caracas, 2008), A alma desfeita em corpo (Portugal, 2009), Fuego en las cartas (edição bilíngue, tradução de Blanca Luz Pulido] (Espanha, 2009), Autobiografia de um truque (Brasil, 2010), Delante del fuego [traducción de Benjamín Valdivia] (México, 2010), Abismanto [com Viviane de Santana Paulo] (Brasil, 2012). arcflorianomartins@gmail.com.

Valdir Rocha  (São Paulo, 1951) é pintor, desenhista, escultor e gravador, com dedicação às artes plásticas desde 1967. Parte expressiva de suas obras está reproduzida nos seguintes livros: Mentiras, Verdades-meias e Casos Veros (desenhos, pinturas, esculturas e textos diversos), São Paulo, 1994;  Xilogravuras, São Paulo, 2001; Cabeças. São Paulo, 2002; Gravuras em Metal, São Paulo, 2002; Títeres de Ninguém, Florianópolis, 2005; SÓS (desenhos e pinturas sobre papel impresso), São Paulo, 2010; e Confidências (desenhos e pinturas sobre papel impresso), São Paulo, 2013. A obra de Valdir Rocha é objeto de diversas monografias, como as seguintes: A Escultura de Valdir Rocha, de Mirian de Carvalho, São Paulo, 2004, e O Desenho de Valdir Rocha, de Péricles Prade, São Paulo, 2010. Em 2012, foi publicado o livro Só sobre SÓS, de Valdir Rocha, coordenado por Péricles Prade, Florianópolis, com textos de 17 autores. Realizou exposições individuais e participou de algumas coletivas. vr@valdirrocha.art.br.





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